São Paulo, 04 de março de 2011
“A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. (Paulo Freire)
Oi Lucas, espero que esteja tudo bem por ai. Desde que você foi para o Chile nunca mais nos comunicamos. Fiquei muito feliz em saber que a sua ONG pela educação está dando muitos frutos.
Falando em educação, hoje fui visitar a escola na qual farei estágio. É uma escola do Estado situada aqui mesmo na zona sul. Meu irmão, você não imagina como as coisas pioraram, se você já se impressionava com o desinteresse por parte dos alunos imagine só o que é vê-lo também por parte dos professores.
O coordenador que nos acompanhou (fomos Eliane e Eu) foi muito simpático e educado, ele demonstrou muito zelo pela escola, nos mostrou as salas de aula, refeitório, sala de vídeo (se é que se pode chamá-la assim), sala de informática (são 15 computadores para uma média de 50 alunos por classe) cozinha e a sala dos professores. Na sala dos professores conhecemos o professor de Sociologia. Ele nos cumprimentou, perguntou o que tínhamos visto sobre o assunto na faculdade e, logo em seguida, nos deu suas recomendações.
Lucas, ele nos disse que seria muito bom que a nossa próxima graduação fosse em uma área não ligada à Educação, pois, segundo ele, “ninguém consegue se aposentar nisso aqui”. Disse também que para alguns colégios particulares a experiência na rede pública de Educação é ponto negativo no currículo, e nos contou da humilhação que passou em uma entrevista num desses colégios caríssimos. Este professor falou ainda sobre o grau de conhecimento dos nossos futuros alunos “Eles mal sabem ler, por isso fica muito difícil trabalhar algum conhecimento filosófico ou sociológico”.
Isso para nós não foi nenhuma novidade, já sabíamos da situação da Educação, mas ainda não tínhamos visto o seu reflexo tão de perto. Meu irmão, se a esperança dos professores acabar não adianta mais lutar, pois os alunos nem sabem o que é isso e o Estado quer mais é que fiquemos todos ignorantes.
Esse banho de água fria foi importante para mim. Agora estou ainda mais convicta da minha missão. Sei que quando for professora os alunos continuarão desrespeitando, alguns professores continuarão desanimados, e eu continuarei tentando fazer algo pelos jovens.
Carrego comigo a semente da esperança plantada em nós pelos nossos pais e regada por nossas experiências de luta, negá-la seria negar o que eu sou.
Te amo muito e sinto sua falta, mas sei que é por uma causa nobre.
Cláudia