segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Pena que nem toda vizinhança é animada assim ...

Só pra descontrair né gente ...

domingo, 23 de janeiro de 2011

Para o Papa

Olá santidade (não encontrei melhor saudação para me referir ao sucessor de Pedro).
Primeiramente peço a sua benção e agradeço por encontrar tempo para ler minha carta (espero que ela chegue até o Vaticano). 
Bento (será que posso te chamar assim?), o que venho pedir por meio desta carta é de grande importância para mim, peço que leia com toda a caridade que trazes no coração. 
Sei que as particularidades da minha vida não lhe dizem respeito e tampouco devem mudar algo na sua vida, mas para que vossa santidade entenda a gravidade do problema será necessário entrar em alguns detalhes nada agradáveis. 
Em fevereiro deste ano fui à despedida de solteiro do Thiago, um amigo de trabalho. A princípio eu estava desanimado e não queria ir, mas os demais colegas insistiram tanto que acabei indo. 
A festa estava muito animada, com muita bebida e muitas garotas (não me leve a mal, santidade, só fui à festa a fim de prestigiar meu colega). Enchemos a cara e presenciamos atitudes comuns a homens na nossa situação: abraços, declarações de amor (de nós para nós mesmos), danças em cima da mesa e tudo mais que se pode esperar de homens trêbados. 
Lá pelas 5 da manhã os sujeitos começaram a ir para suas casas, percebi que já era minha hora de ir. Passei a mão nos bolsos e tive uma enorme surpresa: na agitação da festa perdi a carteira e as chaves do carro e de casa! Entrei em desespero, sai procurando por todo o bar, mas não tive sucesso na busca. 
Thiago, compadecido da minha situação, sugeriu que eu fosse para sua casa, descansasse pra depois resolver esse problema com mais calma (ali tive plena certeza de que o Thiago era meu amigo, ta vendo santidade, como não comparecer a uma festa pra prestigiar um cara desses?!), é claro que eu aceitei. 
Ao chegarmos na casa do Thiago fomos surpreendidos: a noiva dele, Marina, estava esperando pra lhe fazer uma surpresa, mas como a festa demorou para acabar ela acabou enchendo a cara de uísque e dormindo no chão da sala. 
Com muito esforço, Thiago conseguiu levá-la para o quarto (não porque ela era pesada, mas porque ele ainda estava muito bêbado), afinal, o chão da sala estava reservado para mim. 
Me deitei no tapete e não demorei muito a pegar no sono. Quando imaginei que os sustos teriam acabado fui surpreendido por Marina me acordando e me convidando a tomar mais alguns uísques. 
Bom santidade, a partir desse momento minhas memórias não são tão precisas, mas imagino que os detalhes não seriam do seu agrado. O que posso lhe dizer é que fugi com Marina para alguma cidadezinha do interior onde passamos alguns dias, antes de nos casarmos na cidade vizinha. Isso mesmo santidade, casei com a mulher do meu amigo! 
É agora que faço o meu pedido. Precisamos desfazer esse casamento! 
A Marina até que é bonitinha, mas tem alguns hábitos que não me agradam muito, entende? Acho que não. O senhor nunca vai saber o que é acordar com um sussurro da sua esposa ao pé do ouvido, o que seria uma maravilha se ela não tivesse um bafo de latrina, acredito também que o senhor nunca saberá o que é encontrar peças íntimas dela penduradas no registro do chuveiro, cabelo no ralo do banheiro e também na sua escova de dentes! 
Santidade, aguardo ansiosamente uma resposta sua. Já combinamos que, assim que o casamento for anulado, voltaremos para São Paulo e inventaremos uma história bem convincente para o Thiago, assim eles poderão se casar, como tinham planejado. 
Um sujeito normal simplesmente ignoraria o fato de ter se casado com a noiva do amigo, voltaria pra casa e fingiria que nada disso teria acontecido. Mas eu sou um sujeito de bem meu caro papa, sou de família e não quero estar em desagrado com o cara lá em cima. 

Meus mais sinceros agradecimentos pela sua admirável atenção.



Pedro Lúcio.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Para Lígia

Oi (meu amor) Lígia.

Sei que talvez esta carta só tenha chegado até você muito tempo depois da minha partida, mas não foi minha culpa, por favor, antes de pensar que não me importo com você e com (Guilherme e ...) nossos filhos, me deixe explicar tudo o que aconteceu.
Naquela tarde de domingo todas as mercearias estavam fechadas e eu precisava mesmo comprar cigarros (você sabe como eu fico alterado quando acabam meus cigarros), então peguei um ônibus para ir até o mercado mais próximo. Acontece que, no meio da viagem, peguei no sono e só acordei no ponto final. Pra não dar viagem perdida, fui, mesmo assim, comprar os cigarros. Comprei. Fumei. Fiquei mais tranquilo. Mas toda essa tranqüilidade foi pro espaço quando percebi que o dinheiro que me restava não era suficiente pra passagem do ônibus de volta.
Enquanto não encontrava uma solução fui caminhando pelo centro da cidade, veio a noite, o frio, a fome e, pra completar a desgraça, acabaram-me os cigarros. Minha sorte foi ter conseguido fazer amizade com alguns moradores de rua, eles me ofereceram um papelão pra poder esticar o corpo. Enquanto o sono não vinha conversamos sobre muitas coisas. Descobri que moradores de rua não foram sempre moradores de rua. Um deles tinha feito faculdade e tudo mais. Nos tornamos amigos de verdade.
No outro dia conseguimos comer graças (ao peso na consciência) à boa vontade dos transeuntes que passavam por ali. Dei um jeito na fome e no frio, mas ainda não tinha o dinheiro da passagem, e muito menos cigarros. Bem, o cigarro não foi problema por muito tempo, meus amigos novos me ofereceram uma novidade, digamos assim. O único problema dessa novidade é que afeta a memória, mas como faz passar a fome e alivia a ansiedade, resolvi aderir.
Depois de algumas semanas acompanhando meus novos amigos, comecei a me acostumar com algumas coisas como falta de grana, bens e, principalmente, o cheiro deles (que agora era o meu também).
Numa tarde dessas estávamos na beira de uma estrada que já tentei lembrar o nome pra escrever nessa carta, mas não lembrei, um caminhão se aproximou numa velocidade nada comum para os caminhoneiros daquela região. O caminhão estava quebrado. Segundo o dono do caminhão era alguma coisa no motor.
Pra sorte dele Cássio, um dos nossos, era dono de uma oficina e resolveu o problema, pra nossa sorte, o caminhoneiro tinha bom coração. Ele nos ofereceu uma carona até o litoral. Aceitamos sem pensar duas vezes.
(Querida) Lígia, pra encurtar a história...
Não pretendo voltar pra casa.
Esta carta só chegou pra você agora (oito meses depois da minha partida) porque resolvi escrevê-la somente agora...
Sou outro homem agora, Lígia. Quando respiro fundo posso sentir a liberdade percorrendo cada poro da minha pele, sinto que sou dono dos meus passos. Aprendi a fazer alguns artesanatos, e, pra minha surpresa, eles fazem o maior sucesso aqui no litoral. Não dá pra comprar muita coisa, mas tenho vivido bem fazendo isso.
Espero que a raiva que você está sentido agora não te impeça de ser a ótima mãe que eu sei que você é.

O que eu queria naquela tarde de domingo não era conseguir cigarros, eu queria ser livre.


Queria muito assinar essa carta, mas de tanto me chamarem de Joca acabei esquecendo meu nome.


JOCA

domingo, 16 de janeiro de 2011

Virei Toninho

São Paulo 10 de dezembro de 2010.

Oi mãe, antes de qualquer coisa quero dizer que estou morrendo de saudades da senhora e das meninas.

Aqui em São Paulo tudo é muito maior do que imaginávamos quando assistíamos TV. Eles constroem muitos prédios, acho que é porque a cidade não tem mais pra onde crescer sabe, ai eles aumentam pra cima. A senhora ia ficar muito impressionada...
Mãe, a senhora tinha razão mesmo, não tive tantos problemas pra conseguir um apartamento perto da faculdade, e nem para fazer novas amizades.
Os primeiros dias de aula na turma de Engenharia foram legais apesar da cara amarrada dos meus colegas. E tem outra coisa também, são mal educados, só querem saber de encher a cara e azarar (é como eles dizem quando uma pessoa dá em cima da outra, não tem nada a ver com sorte não mãe) a mulherada.
Ah, tem uma coisa que preciso contar pra senhora. Depois de algum tempo me dedicando aos estudos percebi que talvez eu não estivesse no lugar certo, talvez existisse um curso onde as pessoas sorrissem um pouco, ou se interessassem também pelas mulheres da cintura pra cima...
Seguinte mãe, mudei de curso, agora estou estudando pra ser um designer de interiores. É um curso muito empolgante mãe, não poderia ser diferente com um nome desses. As pessoas da cidade grande contratam um designer pra planejar e arranjar suas casas, confiam neles pois eles (os designers) sabem tudo sobre o que é moderno e o que deixou de ser (aqui essa passagem é tão rápida que se eu mandar um vestido moderno pra senhora, quando chegar ai já ficou cafona).
Bom mãe logo estarei indo passar o fim de ano com vocês todas, pessoalmente vou poder contar mais novidades e saber o que acontece de novo por aí. Espero que meu quarto ainda esteja vago rsrsrs (é como se escreve a risada, mãe). Ah mãe, se não for pedir muito, arruma um colchão a mais pra colocar no meu quarto. Vou levar um amigo da faculdade pra vocês conhecerem, ele é muito simpático.

Beijo mãe!

Toninho
(o pessoal aqui não se acostumou a me chamar de Antônio Marcos, ai virei Toninho)