domingo, 23 de janeiro de 2011

Para o Papa

Olá santidade (não encontrei melhor saudação para me referir ao sucessor de Pedro).
Primeiramente peço a sua benção e agradeço por encontrar tempo para ler minha carta (espero que ela chegue até o Vaticano). 
Bento (será que posso te chamar assim?), o que venho pedir por meio desta carta é de grande importância para mim, peço que leia com toda a caridade que trazes no coração. 
Sei que as particularidades da minha vida não lhe dizem respeito e tampouco devem mudar algo na sua vida, mas para que vossa santidade entenda a gravidade do problema será necessário entrar em alguns detalhes nada agradáveis. 
Em fevereiro deste ano fui à despedida de solteiro do Thiago, um amigo de trabalho. A princípio eu estava desanimado e não queria ir, mas os demais colegas insistiram tanto que acabei indo. 
A festa estava muito animada, com muita bebida e muitas garotas (não me leve a mal, santidade, só fui à festa a fim de prestigiar meu colega). Enchemos a cara e presenciamos atitudes comuns a homens na nossa situação: abraços, declarações de amor (de nós para nós mesmos), danças em cima da mesa e tudo mais que se pode esperar de homens trêbados. 
Lá pelas 5 da manhã os sujeitos começaram a ir para suas casas, percebi que já era minha hora de ir. Passei a mão nos bolsos e tive uma enorme surpresa: na agitação da festa perdi a carteira e as chaves do carro e de casa! Entrei em desespero, sai procurando por todo o bar, mas não tive sucesso na busca. 
Thiago, compadecido da minha situação, sugeriu que eu fosse para sua casa, descansasse pra depois resolver esse problema com mais calma (ali tive plena certeza de que o Thiago era meu amigo, ta vendo santidade, como não comparecer a uma festa pra prestigiar um cara desses?!), é claro que eu aceitei. 
Ao chegarmos na casa do Thiago fomos surpreendidos: a noiva dele, Marina, estava esperando pra lhe fazer uma surpresa, mas como a festa demorou para acabar ela acabou enchendo a cara de uísque e dormindo no chão da sala. 
Com muito esforço, Thiago conseguiu levá-la para o quarto (não porque ela era pesada, mas porque ele ainda estava muito bêbado), afinal, o chão da sala estava reservado para mim. 
Me deitei no tapete e não demorei muito a pegar no sono. Quando imaginei que os sustos teriam acabado fui surpreendido por Marina me acordando e me convidando a tomar mais alguns uísques. 
Bom santidade, a partir desse momento minhas memórias não são tão precisas, mas imagino que os detalhes não seriam do seu agrado. O que posso lhe dizer é que fugi com Marina para alguma cidadezinha do interior onde passamos alguns dias, antes de nos casarmos na cidade vizinha. Isso mesmo santidade, casei com a mulher do meu amigo! 
É agora que faço o meu pedido. Precisamos desfazer esse casamento! 
A Marina até que é bonitinha, mas tem alguns hábitos que não me agradam muito, entende? Acho que não. O senhor nunca vai saber o que é acordar com um sussurro da sua esposa ao pé do ouvido, o que seria uma maravilha se ela não tivesse um bafo de latrina, acredito também que o senhor nunca saberá o que é encontrar peças íntimas dela penduradas no registro do chuveiro, cabelo no ralo do banheiro e também na sua escova de dentes! 
Santidade, aguardo ansiosamente uma resposta sua. Já combinamos que, assim que o casamento for anulado, voltaremos para São Paulo e inventaremos uma história bem convincente para o Thiago, assim eles poderão se casar, como tinham planejado. 
Um sujeito normal simplesmente ignoraria o fato de ter se casado com a noiva do amigo, voltaria pra casa e fingiria que nada disso teria acontecido. Mas eu sou um sujeito de bem meu caro papa, sou de família e não quero estar em desagrado com o cara lá em cima. 

Meus mais sinceros agradecimentos pela sua admirável atenção.



Pedro Lúcio.

Um comentário:

  1. Pois é, tudo tem conseqüência hein amigo rs
    Boa sorte, mas creio que seu casamento não será tão facilmente anulado kkkkkkkkkkkkk
    Boa carta seu carteiro....

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